A "libertação" do azulejo
pela artista Manuela Pimentel.
"Manuela Pimentel , trabalha com cartazes
habitualmente colados sobre azulejos de
fachada que transforma e recicla, dando-lhes… forma de azulejo.
É a revolta do azulejo, esgrimida pela artista plástica
Manuela Pimentel. Na Bienal de Cerveira deste ano e no Festival de Outono
de Aveiro, já em Setembro, podem ser apreciadas outras dimensões
do seu trabalho.
O movimento de libertação dos azulejos já se iniciou.
A pouco e pouco emergem novamente nas fachadas dos nossos edifícios,
sem cartazes apostos. Manuela Pimentel, artista plástica, 30 anos,
recolhe algumas dessas matrizes publicitárias da rua
para depois aplicar nas suas ‘Figuras Avulso’: os cartazes são reciclados,
pintados e passam a forrar peças de madeira, cuja forma simula a do
azulejo. Manuela foi desenvolvendo uma observação das mensagens de
rua, dos seus graffiti e stencil, que hoje até se pode considerar clínica e
viciante. Perscruta paredes, delicia-se com mensagens anónimas, slogans,
apelos. Está receptiva aos estímulos desse imenso livro urbano que são
as artérias das nossas cidades, porém com páginas negras: cartazes
inconscientemente colados sobre azulejos seculares. Existem muitos
outros estímulos, de simbologias misteriosas, como um “±” profusamente
repetido na cidade do Porto e que viria a dar nome a uma das suas exposições
individuais: + ou – Fixação Proibida (patentes nas galerias Esteta 7
e Servartes, Porto, 2007). “Sou uma amante de histórias e das estórias
das coisas. Passamos muito tempo nas ruas, consciente ou inconscientemente,
absorvemos grande parte da mensagem que nos é passada
através de publicidade, mensagens mais ou menos sociais e políticas, de
arte de rua. Passei a trabalhar sobre isso, sobre o que essas mensagens
nos transmitem, as sensações, os medos, os amores, o humor. No tríptico
Amo-te, seleccionado para a Bienal de Cerveira deste ano (a decorrer até
26 de Setembro), colou cartazes de costa para a tela, com mensagens
de amor escritas em espelho como se tivessem sido arrancadas das
paredes juntamente com os cartazes. A moldura eterniza-as. O percurso
da artista tem-se ainda pautado por intervenções em espaços hospitalares
e fabris: Concebeu um mural para a urgência de pediatria do Hospital
Senhora da Oliveira e uma instalação para uma clínica, ambos em Guimarães.
Com a recente remodelação das instalações da têxtil A2 Asdrubal J.A
surgiu novo desafio: associar o seu trabalho a interiores de cariz industrial.
Curiosamente, foi a primeira vez que usou azulejos tradicionais, adquiridos
em antiquário. Criou ainda uma escultura de flores de algodão, assente
numa estrutura de arame.
Em paralelo, Manuela desenvolveu outro projecto, denominado Impressões
de Risco. O objectivo é criar peças acessíveis a todas as bolsas, em suportes
pouco usuais, com destaque para aventais. As Figuras Avulso inserem-se
neste conceito. Ao mesmo tempo participa, com o actor
Pedro Lamares e o pianista Álvaro Teixeira Lopes, no espectáculo Coincidência
quer pode ser visionado nos próximos meses de Setembro e Outubro no
Festival de Outono de Aveiro depois de ter passado no Festival em Rotação
que decorreu entre Porto e Vila Praia de Âncora em Julho. Trata-se de uma
encenação de poesia e música com imagens de artistas plásticos e fotógrafos.
E quem gosta de telenovelas pode sempre ter uma ideia do que são
as Figuras Avulso de Manuela Pimentel na ficção “Sentimentos”, na TVI. A
cenógrafa Cláudia Alencar seleccionou uma composição Amo-te para
constar no cenário da personagem Inês.
A próxima exposição individual da artista está agendada para a Galeria
Jorge Shirley, em Lisboa, a 26 de Fevereiro. "
Texto Ana Jorge
Fotos de Pedro Lamares e Luis Tobias.
CASA CLÁUDIA Agosto 2009 23